sábado, 6 de outubro de 2012

Vícios e curiosidades da política livramentense: Um passeio pela nossa história recente


Renato Luz*
Era uma vez um município num local indefinido da Bahia, alguns dizem que é Chapada Diamantina, outros dizem que é Sertão Produtivo, outros dizem que é Bacia do Paramirim, dizer também que é no sudoeste da Bahia não resolve. Se o espaço geográfico, o território de identidade de Livramento já é algo que provoca muitas discussões e incertezas, imagine a política então?
 
O céu ainda está nebuloso, a política de Livramento costuma-se definir nas últimas semanas. Mas, o objeto deste artigo é outro, e peço paciência dos leitores para tecer sobre o assunto. Quero comentar algumas curiosidades e vícios que vem sendo renovados nos nossos quadros eleitorais. Os eventuais erros da historicidade podem ocorrer principalmente porque teço sobre episódios que datam de até 30 anos atrás, e eu só disponho de 22 deles. Não esperem imparcialidade, isso é mito, não vão encontrar em lugar algum, muito menos de qualquer produção oriunda de uma mente humana. Busco apenas o equilíbrio das partes com certa dose de independência e o mais importante, fidelidade aos fatos.
 
Eis algumas curiosidades principalmente para os mais novos, que é o segmento mais entusiasmado nesta eleição, em particular.
 
Fato 1: Desde 1982, exatos 30 anos, essa é a primeira vez que temos uma disputa eleitoral sem a presença das duas maiores figuras políticas da nossa história. Emerson Leal e Carlos Batista. Talvez, isso explique a dinâmica desta eleição, marcada especialmente por polêmicas e calúnias virtuais entre dois candidatos que buscam ganhar musculatura e identidade própria nesse novo cenário da nossa política. Se isso não explica a “baixaria” que toma conta da política livramentense, a falta de politização de um eleitorado viciado na troca de favores e no “toma lá da cá”, ajudem.
 
É fato também que a dicotomia do nosso jogo eleitoral sufoca qualquer possibilidade do “novo”, da “vanguarda”, sendo assim, ficamos condenados ao império do “mais do mesmo”. Ficamos viciados a liderança destes dois personagens. Eles polarizam a política livramentense há pelo menos 12 anos, desde 2000, quando Carlão se tornou o candidato oposicionista no lugar de Lourival Trindade.
 
Fato 2: Digo que são as duas maiores personalidades da nossa política, pelos seguintes motivos: Emerson é o único prefeito da nossa história com quatro mandatos, goza também do prestigio de nunca ter perdido uma eleição (ele próprio). Já Carlão, embora tenha apenas dois mandatos, possui a maior votação absoluta da história do município e certamente uma das maiores vitórias proporcionais.
Dito isto, partimos para algumas considerações, ou melhor, contradições mesmo.
De uma forma ou de outra, a maioria das lideranças políticas de Livramento surgiram ironicamente no berço de Emerson Leal, é difícil encontrar alguma personalidade notável da política que nunca tenha dividido palanque com ele.
 
Nas eleições de 1988, “Dr. Emerson” apresentou aos livramentenses Dr. Carlos Roberto Souto Batista (o Carlão), como seu candidato a vice, anos depois ele descobriria que o seu então vice se tornaria o seu maior adversário. Esse fato curioso, nos atenta para uma questão importante; os laços que unem os vices-prefeitos na nossa cidade nas últimas três décadas são mais frágeis do que espelhos. Quase sempre esses laços se rompem. E ai existe uma regra básica: nenhum vice tem tido espaço na prefeitura e isso não é de hoje, é desde que Carlão foi vice, 1989.
 
Em 1988, Carlão tecia elogios a Emerson e vice-versa. No mesmo ano, apresentou-se como adversário por outra chapa o fruticultor, Raelson Ribeiro, tio de Ricardinho. Aquela foi também a primeira apresentação de Lourival Trindade, que herdou o eleitorado de Ulisses Lima e dali pra frente se tornaria a maior referência oposicionista a Emerson Leal.
 
Em 1992, Carlão, já rompido com Emerson se lança candidato. Passou a contar com o apoio de figuras descontentes daquela gestão. Com a oposição dividida, Emerson fez seu sucessor sem dificuldades. Trata-se de Fernando Ledo, cuja família hoje acompanha as fileiras do bloco do prefeito Carlão.
 
O ano de 1996 é certamente uma eleição marcada pela competitividade dos candidatos Emerson Leal e Lourival Trindade. Até hoje circulam devaneios de suspeitas naquele processo eleitoral. Esta eleição é caracterizada também pela união das oposições em torno da liderança de Lourival e Carlão. Lourival na época era do PDT, ironicamente partido que hoje Emerson é filiado, sua família também optou por não apoiar o candidato a sucessão apresentado pela situação, preferiu Paulo Azevedo.
 
Em 2000, Carlão assume a liderança das oposições e monta uma chapa com o empresário João Cambuí (PCdoB) e mais uma vez são derrotados por Emerson. Nesse meio tempo, o Priquitão, consegue também a façanha de fazer do seu filho, deputado estadual pelo PTB, na base do então governador Paulo Souto, depois ele passaria ao PPB e finalmente ao PSL, hoje base do governador Jaques Wagner.
Finalmente chegamos a 2004, uma eleição que envolveu os livramentenses. A oposição repetiu sua chapa anterior, com Carlão e João Cambuí conseguiu a adesão da juventude do município e também de importantes segmentos da nossa sociedade. Após, mais de16 anos, o bloco oposicionista venceu a eleição com pouco mais de 600 votos de frente sobre Dr. Paulo, então candidato de Emerson. A vitória de Carlão e Cambuí se deu sob o discurso de mudança, liberdade e desenvolvimento. Embora a vitória se desse no executivo, no legislativo Carlão não conseguira fazer a maioria.
O prefeito Carlos Batista então trouxe para sim em troca de espaço político a adesão do vereador Leandro Araújo, não tardou também a adesão do então vereador Everaldo Gomes.
 
Se por um lado vinham as adesões da Banda B do grupo historicamente combatido, por outro lado surgiam os primeiros desentendimentos do prefeito com seu vice João Cambuí e com o PT de Gerardo Junior, que ocupava a secretaria de saúde do município. Com o parecer negativo das contas do município, e sem o apoio do PT, mais uma vez o grupo do prefeito recorreu a vereadores do grupo de Emerson para obter aprovação das contas do município, dessa vez foi à hora de trazer Wagner Assis para seu time. O “troca-troca” estava apenas começando. Como jogadores de um time futebol, as figuras da política livramentense passaram a trocar de “camisa” com muita freqüência.
 
Cambuí tornou-se o vice na chapa da esposa de Emerson Leal em 2008 e Gerardo Junior e o PT seguiram carreira solo. Já Dr. Paulo embora tivesse sido escolhido como candidato em convenção partidária, acabou optando por ocupar a vaga de vice na chapa de Carlão. A composição com Paulo na chapa vencedora é avaliada como decisiva para a construção da ampla margem de votos na eleição anterior.
 
O palanque do prefeito, agora estava dividido não só com seu grupo original, fruto de sua longa caminhada oposicionista, desde 1992, mas também abrigava agora, diversas outras oriundas da gestão de Emerson Leal, inclusive do ex- vice-prefeito, Sinval Marques. Carlão acabou por vencer o pleito com uma ampla margem de votos e obteve um resultado de folga na Câmara, suficiente para deixá-lo tranqüilo em qualquer votação durante o mandato.
 
Ufa. Chegamos em 2012. Sem Emerson e sem Carlão, essa é a novidade da eleição. Fiz todo esse apanhado, simplismente pra dizer que muito dos argumentos apresentados pelos candidatos no último debate e durante a eleição são toscos e contraditórios. Ricardinho trocou o PMDB de Geddel pelo PSD do vice-governador Otto. Então, entende-se de que quando culpa o governo do estado por má atuação da embasa, ‘e de outros segmentos esteja atacando seu próprio partido, que compõem o governo e inclusive tem uma das maiores bancadas de sustentação na assembléia legislativa. Entende-se também que quando Dr. Paulo fala de má gestão nos últimos oito, e não nos últimos quatros anos, pressume-se que ele aderiu ao grupo do prefeito há quatros anos sabendo do que encontraria por lá, sendo assim em acordo com o que via.
 
Portanto, como de um lado, como de outro, falácias e bobagens são espalhados para enganar o eleitor menos informado desses fatos. O que não faltam é candidatos que posam com palatinos da moralidade.
 
O grande diferencial dessa eleição é a importância do papel que ambos os candidatos a vice exercem. Tanto Clarismundo, como Gerardo Junior são figuras políticas sem a menor rejeição do eleitorado do município. É provável que venha de um deles, o diferencial que de a vitória a um dos candidatos no próximo dia 07 de outubro.
 
Outro fato curioso é que há 16 anos Livramento é administrado por médicos, se Paulo vencer, caminharemos para completar duas décadas desta tradição; por outro lado se Ricardo vencer, teremos após 16 anos o primeiro prefeito sem formação de nível universitário.
 
Feito esse passeio pela nossa história que conclusões podemos chegar? Que não há quase nenhuma novidade na nossa política. As mesmas famílias se perpetuam na disputa pelo poder há pelo menos 30 anos. E por que isso acontece? Porque temos um legislativo submisso e promiscuo, que durante todos esses anos, foi cúmplice da uma polarização que não tem nos feito bem. São os arranjos da política!
 
No meu entender, o maior desafio do livramentense no dia 07 não é com o voto no prefeito, mas sim no voto pra vereador. E não digo isso sugerindo o voto nulo, este certamente não será a melhor das opções, é preciso escolher sim por um dos lados.
Se o nosso congresso nacional não atende as nossas demandas, acredite, ele é fruto da política mesquinha praticada nas câmaras legislativas brasileiras. Muito embora seja dever do vereador, apresentar projetos e fiscalizar o executivo, bem sabemos que aquela casa legislativa está muito aquém disso. Se existem projetos, ninguém os conhece. Na melhor das hipóteses falta divulgação, sabemos que não é o caso.
 
Tanto nos quadros da situação, como na oposição a exemplos sólidos de desserviço ao que reza a constituição quanto à função do legislador. Há exemplos nítidos de vereadores que sequer usam a tribuna da Câmara para se pronunciar sobre qualquer tema que fosse, o que permite inclusive suspeitas de analfabetismo funcional de alguns de nossos representantes.
 
Por isso, quando escolher o seu candidato a vereador, lembre-se que você paga R$ 3 mil e 700 reais para que ele seja o seu legítimo representante dos interesses coletivos. Paga para que ele fiscalize o executivo e, sobretudo, apresente projetos que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos.
 
Escolher um candidato que verdadeiramente tenha projetos para o município é nosso dever. Não seja cúmplice da promiscuidade política, não rasgue o dinheiro dos seus impostos.
 
* Renato Luz é jornalista.
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